Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

André Trigueiro comenta o caso do PM que transmitiu o suicídio ao vivo no Facebook

Recebi uma ligação na manhã de hoje do Jornal Extra repercutindo o suicídio de um PM do Rio que foi transmitido ao vivo pelo facebook. Me ligaram por saberem do meu envolvimento com a causa da prevenção do suicídio e do livro "Viver é a Melhor Opção" que lancei em 2015. Sobre o assunto, gostaria de dizer o seguinte:
- Replicar fotos ou imagens de alguém em situação de extremo desespero ou desalento com a vida (não apenas o suicídio em si) é algo simplesmente abominável. Um desrespeito a pessoa que sofre, e também a quem vier a receber essa informação.
- Segundo a Organização Mundial de Saúde, é melhor não reportar casos de suicídio na mídia. Se isso for inevitável (como no caso do ator americano Robins Williams, em 2014) convém evitar generosos espaços com manchetes e imagens, não revelar o método empregado nem enaltecer s qualidades morais do suicida.
- Pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente podem registrar notícias sobre suicídios como uma sugestão.
- A informação sobre suicídio que merece destaque na mídia (segundo a OMS) é a seguinte: em 90% dos casos, os suicídios são evitáveis por estarem associados a patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis. Um dos principais fatores de risco suicida é a depressão. O PM que virou notícia por essa tragédia tinha um histórico de depressão, e havia sido internado 4 vezes na psiquiatria do Hospital Central da Polícia Militar. Não sabemos como foram esses atendimentos.
- Outro fator de risco é o acesso a armas. Soldados das Forças Armadas, Policiais (civis, militares, federais) ou qualquer pessoa que tenha porte de arma precisa ter assistência psicológica e apoio emocional constantes.
- Ninguém se mata por uma única razão. Pode haver uma causa preponderante, que jamais responderá sozinha pelo ato extremo de se matar. Suicídio é um fenômeno complexo que não se explica com conclusões precipitadas ou generalizações.
- Quem precisa de ajuda (e não tem dinheiro sobrando) pode procurar os CAPs (Centros de Apoio Psicossociais), os serviços gratuitos oferecidos por Faculdades de Psicologia espalhados pelo Brasil e o CVV - Centro de Valorização da Vida - pelo número 141.
- Amigos e parentes devem acompanhar eventuais comportamentos estranhos de reclusão social, não compartilhamento de informações, sucessivas queixas ou declarações que remetem a uma situação limite, falta de esperança ou de qualquer saída possível. Em se confirmando isso, não despreze a possibilidade de haver aí algum sinal indicando risco de suicídio.
A vida é para ser vivida.
Quando não estamos de bem com a vida, precisamos procurar ajuda.
As crises passam. Nós devemos seguir adiante.

Fonte: André Trigueiro